Sunday, October 30, 2005

Vai um Capuchino?

O capuchino é uma tentativa de imitação mal conseguida da meia de leite portuguesa. Quando estou benevolente digo que é uma meia de leite, só que mal tirada, mas, em verdade se diga, um capuchino não chega nem a ser uma meia de leite, nem bem nem mal tirada.
Na área das misturas do café com leite não há nada que chegue aos calcanhares da meia de leite portuguesa. A meia de leite existe fisicamente; vê-se; cheira-se, até ao longe; sente-se; excita-nos o paladar; faz-nos sentir despertos e relaxados, em simultâneo; provoca-nos aquele suspirozinho de aconchego; é líquida; é feminina, por isso se toma; é meia para deixar algum espaço de manobra para poder ainda melhorar – como se tal fosse possível! O capuchino é masculino e está tudo dito; é morno e como os homens mornos é sem sabor; enerva; não aquece nem arrefece; não desperta; não excita; não suscita coisa alguma. O capuchino é balofo e a sua espuma só atrapalha e provoca gases. É mau para os intestinos, por isso.
Na meia de leite o açúcar cai na xícara e dissolve-se efectivamente, não fica para ali a boiar em cima da espuma. Uma pessoa mexe uma meia de leite e vê o movimento do líquido na chávena e essa sensação é extremamente importante para todo o português e para qualquer ser humano que se preze. O movimento dá-nos aquela certeza de que a vida existe - o movimento talvez seja a vida. Para além de que mexer uma meia de leite é um dos grandes prazeres desta vida. É uma sensação de omnipotência provocar ondas numa xícara. Sentimo-nos como uma lua a provocar as marés no mar.
Uma meia de leite vem cheia de meia de leite, um capuchino vem meio de capuchino e meio de espuma. É um contra-senso, um paradoxo, uma arteirice, um falso produto, uma presunção. Uma meia de leite não paga franchisings nem direitos de autor e deveria ser incluída nos bens de primeira necessidade para ficar isenta de IVA. Uma meia de leite é uma meia de leite e pronto! Um capuchino pode vir com mais qualquer coisa que só o descaracteriza: Um capuchino com canela ou outras especiarias; um capuchino com qualquer outra mariquice, tipo, como já vi, com um desenho sobre a espuma. A arte do capuchino está no desenho ou na espuma e não no capuchino. A arte na meia de leite é-lhe intrínseca. Um capuchino, quando muito, é uma meia de leite com gravata, mas essas coisas das gravatas só ficam bem nos imperiais.
Conheço alguns italianos que já se renderam à meia de leite portuguesa – Uma redundância, a meia de leite é portuguesa! -, aliás, depois de a experimentarem todos se rendem, “isto sim, é um bom capuchino!”, dizem, imediatamente antes de serem interrompidos pelo meu patriotismo. “Isto sim, é uma meia de leite”, digo, para não haver confusão.
A primeira coisa que peço, em cada regresso, seja lá do que for, é uma meia de leite. A meia de leite faz-me sentir em casa em qualquer casa. Uma meia de leite obriga-me a olhar o horizonte. E o horizonte está sempre lá, haja o que houver...

Monday, October 24, 2005

Em defesa das sanitas turcas...


Esta foi tirada in loco, na turquia. Além de não ser preciso ficar de pé, ainda tem a vantagem de ter um pequeno esguicho bastante útil (e só não acrescento o adjectivo "agradável" porque é do tipo de coisas que pode beliscar a fama de qualquer um).

Wednesday, October 19, 2005

Lago de Garda

Lago di Garda, Itália
Em Itália tudo se paga. Tudo mesmo! Tenho medo do dia em que me obriguem a transportar uma botija de ar sempre que lá tenha que entrar.
Depois de um jantar que até nem foi nada de especial, e onde se pagou algo muito perto dos 50 € (cada pessoa), fui fazer uma visitinha à casa de banho. Aí está ela na imagem. Por momentos pensei que estava bêbado ou que tinham, sem que ninguém desse por ela, gamado a sanita! Um restaurante sobre um lago. Um restaurante onde conseguem falar outra coisa que não o italiano. Um restaurante com muita pinta e dou com uma casa de banho destas! Bem... Talvez o meu conceito de estética esteja desfasado ou a minha aptidão física já não é o que devias ser, pelo menos depois de um jantar mais ou menos farto, mas o que é certo é que só lhe tirei uma foto e dei meia volta saindo por onde tinha entrado e impondo-me uma cara de quem acaba de passar por experiência corriqueira ou perfeitamente normal.
No norte de Itália, estas sanitas turcas(??), são perfeitamente normais nos restaurante dito de última linha.

Sunday, October 16, 2005

SU DOKU

A única dificuldade do SU DOKU está em resolver completamente um quadro sem riscar no papel um único número. Tudo na cabeça. Isso sim, é um verdadeiro quebra cabeças.

Monday, October 10, 2005

Psicopatia da Pulseira

A pulseira e todos os ornamentos usados nos pulsos são, para mim, uma das melhores evidências da existência de neurose na humanidade. Há actualmente três espécies de pulseiras que me deixam intrigado. Deixo, desta forma, uma pequena resenha, em três capítulos, sobre o desconserto dos pulsos inseguros.
Pulseiras, capítulo primeiro: Nos últimos tempos tenho visto alguns jovens e menos jovens com umas pulseiras de borracha de todas as cores. A princípio pensei que eram pulseiras dos regimes tudo incluído, nos resortes tropicais, ou pulseiras entregues nos festivais de verão para garantirem que o portador pagou os dias em que vai frequentar o recinto do espectáculo. Quando quis saber o seu significado, uns disseram-me que eram pulseiras de luta contra o racismo, outros, que eram de luta contra o cancro, outros ainda, contra a sida, etc. Enfim, aquilo são pulseiras que lutam contra toda a espécie de maleita! O que é certo é que aquele bocado de borracha custa aí uns 3 Euros que vão direitinhos, isso sim, para o bolso de quem inventou a moda. Se não tivesse visto as pulseiras noutros países Europeus diria que o invento era português. Mesmo assim, não ponho completamente de parte a hipótese da patente ser nossa. É que na arte de fazer dinheiro fácil à custa de enfermidades e calamidades só temos à nossa frente os romenos que distribuem panfletos nos semáforos e que têm sempre uma mulher entrevada e uma meia dúzia de filhos com um olho no centro a testa (Ele inventam-me cada doença mais radioactiva!).
Pulseiras, capítulo segundo: A maioria dos portugueses, como é sabido, vai ao Brasil para desoprimir as suas quezilas sexuais, o que só por si é triste e preocupante. Mas, mais triste e inadmissível ainda é virem depois armados em santos a distribuírem pulseiras da nossa senhora do Bonfim por tudo quanto é amigo ou familiar. Chegam mesmo a colocarem o cordel no pulso das namoradas, que cá ficaram, dizendo que devem andar com ele até este cair de podre. À custa da formulação de três desejos, e da esperança de que estes se concretizem, vemos hoje a senhora do Bonfim em muitos dos pulsos de fulanos e fulanas sem pulso.
Pulseiras, capítulo final: Há algumas pulseiras que mais parecem cordéis comprados em charcutarias. Qualquer resto de atilho usado para estancar a carne de porco nos chouriços fumados serve para ornamentar os pulsos dos portugueses. E não me venham com atitudes de desprendimento e outras que tal, pois, o desapego é saudável mas o mau gosto estético é lamentável.
Vá lá!, vá lá!, o valor sentimental que alguns piegas lhes atribuem, a razão estética ainda que de mau gosto, o emblema de algum momento inesperado, são razões que fazem das pulseiras do cordel de enchido as menos mazinhas para a reputação de quem as usa.
De forma propositada não falei de alguns espécimes, por exemplo, os que usam os elásticos de prender os totós do cabelo como pulseira; Os que usam pulseiras magnéticas (aquelas com duas bolinhas nas pontas muito em voga nos anos 80 – Cá para mim um invento do mesmo reguila das pulseiras de borracha multicolor) para combater o reumatismos, cirroses e outros... Não abordei estes casos pois iria estragar esta grande obra sobre a psicopatia da pulseira.

Wednesday, October 05, 2005

Os jornalistas...

Alguns jornalistas assassinam os temas que lhes caem nas mãos. Esta notícia, lida em blog-whatever.blogspot.com e publicada pelo Correio da Manhã, está tecnicamente incompleta, fala apenas do quando, descurando o onde e o como. Irrita-me esta brevidade nos jornalistas!
Dizer que foi numa sala de aulas é o mesmo que dizer nada! O que as pessoas precisam de saber é se foi em cima da mesa, no chão, ou pendurados num dos quadros (especificando também se o quadro era de lousa ou um moderno white board) e, se foi em cima da mesa, em qual delas? na do docente ou na do aluno mais inteligente da sala?
Depois há o como. O “como” é crucial! é aí que o leitor assimila o filme todo. Sabe-se que tinham a porta fechada mas não se sabe mais nada! Falta detalhar a posição, atribuir-lhe um número e indexá-la ao Kamasutra versão oficial (sim, também deve haver um Kamasutra oficial, como há o verdadeiro capa de ferro e todos os outros São Ciprianos, a verdadeira bíblia e todas as que não são verdadeiras). Saber se ela era a dominadora ou se era ele o dominador. Analisar o impacto sociológico do facto: Um director dominado por um docente.

Uma notícia como esta, tinha pano para mangas para se tornar numa grande notícia. Grande e tecnicamente perfeita. O jornalista deu cabo da notícia e suicidou-se profissionalmente, qual kamikaze.

Ler um artigo desses é o mesmo que praticar coito interrompido!

Detesto os jornalistas de hoje por tratarem ao de leve questões de grande importância para a sociedade portuguesa, de uma forma particular, e para o mundo, de uma forma sexual.

Sunday, October 02, 2005

Pelas costuras...

Estou prestes a entrar em colapso, por dois motivos. Por um lado estou a trabalhar num domingo chuvoso, por outro, estou rodeado de pessoas que, só a muito esforço, entendo ou me entendem. Não conseguir falar francês é para mim um ponto assente. Sempre que tento ponho em risco a minha masculinidade!
Não havendo excepção, todas as minhas frases começam em francês, lá para o meio entram umas palavras em português, terminando sempre em inglês. Eu esforço-me, juro que me esforço! mas não consigo. Não consigo fazer aquele biquinho pouco viril com os lábios para usar de grande parte do vocabulário francês. Por exemplo, “Monsieur” é quase um atentado! “Oui! oui! oui!” é vaselina verbal. “Mademoiselle ça c’est bon” dá-me um nó na língua e provoca-me cãibras nos lábios. Vamos ver no que isto vai dar...